segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O Abel ou uma saúde sem sistema....

Encontrei esta noticia no blog: http://molhobico.blogs.sapo.pt/17803.html
e achei-a de interesse, até pelo nome próprio da pessoa em causa ser Abel como o meu.
Passo ao texto:


"É uma pena! É um desabafo poético, rasgado de raiva, de dó, dum País que nunca mais se encontra.
Dum País que nunca mais ganha vergonha. As pessoas, nós, os humanos lusitanos, merecemos mais, muito mais que o Abel.
Aqui fica o testemunho, retirado por aí, duma página solta...
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13mar2005
....
"O Abel Reis
do Pessegueiro
foi hoje a enterrar.
72 anos.
Uns anitos, mas poucos
para a esperança e a força
que procurou para que a vida
o não deixasse.
Mas o Abel morreu
porque quiz morrer,
o Abel morreu
porque o deixaram morrer,
o Abel morreu
porque o sistema de saúde
o deixou morrer como ele quiz.
O Abel
somos nós.
O Abel
pode ser cada um de nós
se continuarmos a deixar
que o sistema de saúde seja uma...
não digo, porque parece mal.
O Abel
não tinha viatura.
Era o taxi
que o levava,
que o levou
a tudo quanto era médico
à procura de solução
para o seu problema de saúde.
Domingo,
sim, domingo passado,
o Abel vai para Ansião
à procura de solução,
sem solução,
Avelar, sem solução,
Coimbra... mandam-no embora...
sem solução.
O Abel volta a sua casa
e diz à mulher:
deixas-me morrer
aqui em casa ao pé de ti? –
Eu não quero que morras,
mas se assim queres fica aqui.
O Abel sentia
que o fim estava próximo.
O sistema de saúde
abandonou-o.
A poucos minutos do fim
ele confessava: -
Sabes Clara, morro feliz,
porque pedi à minha mulher
para morrer aqui
e ela não se importa...
Podemos dizer tudo,
podemos fazer milhentas obras,
podemos ir à lua,
mas o Abel morreu
porque na minha terra
o que mais temos
são cemitérios,
capelas mortuárias...
O Abel morreu
porque na minha terra
não há um médico,
um enfermeiro...
O Abel morreu porque quiz?
O Abel morreu feliz?
O Abel morreu
porque a saúde da minha terra
continua enferma...
Paz à sua alma.”

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